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Desmatamento da Amazônia
e a seca na região Sul do Brasil

Sabrina Chelegel
05 jun 2020

revisão textual: Talita V. Braga

Primeiramente devemos começar esse texto falando sobre a Floresta Amazônica e o que é a Amazônia Legal. A Floresta Amazônica é a maior floresta tropical do mundo e faz parte do bioma conhecido como Floresta Pluvial Tropical, ocorrendo em outros países além do Brasil, como Venezuela, Peru, Colômbia, Bolívia, Guiana, Guiana Francesa, Suriname e Equador. Nesse tipo de floresta a precipitação anual chega a cerca de 2.000 mm (bem úmida) e a temperatura é sempre quente. A sua diversidade (para saber mais sobre Biodiversidade acesse o link http://papocomciencia.com.br/pages/materias/dia_biodiversidade.html) e produtividade biológica excede a de qualquer outro bioma, pois a ciclagem de nutrientes ocorre de forma rápida por ser uma floresta úmida e quente, o que faz dela uma floresta autossustentável! As árvores da Amazônia ultrapassam 55 metros de altura, mas para a sua surpresa o seu solo é pobre e arenoso, isso significa que ele é pouco fértil para a realização de agricultura em grande escala, pois são as próprias árvores que atuam como adubo para a terra através da queda de suas folhas. Quando uma área de Floresta Amazônica é desmatada e/ou queimada muito de seus nutrientes acabam sendo perdidos e sem a floresta nem o solo nem a própria floresta conseguem se regenerar sozinhos.

A Floresta Amazônica é a maior floresta tropical do mundo!

A Amazônia Legal é o território compreendido pelos Estados do Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá e Mato Grosso e pelas regiões situadas ao norte do Tocantins, e a oeste do Estado do Maranhão (Lei Complementar nº 124/2007, Lei nº 11.952/2009, Lei nº 12.651/2012). A Amazônia Legal totaliza uma área de 5.114.798,30 km2, sendo que, deste total, aproximadamente 83% representa o Bioma Amazônico, enquanto o restante é representado pelo Bioma Cerrado e Pantanal. Isso mesmo, existem algumas manchas de cerrado em meio a floresta!

Para entendermos a dimensão da Floresta Amazônica, ela é comparada com o tamanho da Europa Ocidental.

Infelizmente não é de hoje que a Floresta Amazônica vem sendo desmatada. No início da era quase “moderna” a Amazônia brasileira era quase intacta! Mas foi a inauguração da rodovia Transamazônica, os interesses econômicos (atrás de matéria prima), o aumento na criação de gado e tantos outros fatores, que engrenaram o forte e acelerado desmatamento da floresta. O desmatamento teve épocas de picos muito altos e declínios e embora sejam inúmeros os fatores que até hoje são a causa do desmatamento, a criação de gado é a mais predominante. A pecuária corresponde a cerca de 70% das atividades de desmatamento, mas também é comum o desmatamento e queimadas para dar início a atividades agrícolas.

É importante considerar que a economia e o governo do país têm uma forte influência sob a degradação da floresta.

O monitoramento do desmatamento na Amazônia é realizado desde o ano de 1988 pelo programa PRODES (Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia), que é operado pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e monitora por satélite o desmatamento por corte raso na Amazônia Legal. A partir das informações que são levantadas nos monitoramentos são calculadas as taxas anuais de desmatamento na região, que são usadas pelo governo brasileiro para estabelecer políticas públicas. Você pode verificar uma tabela de desmatamento em km2, desde o ano de 2004 até 2019, através do link http://www.obt.inpe.br/OBT/assuntos/programas/amazonia/prodes.

As informações que são geradas através desses monitoramentos são disponibilizadas no portal TerraBrasilis ( http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/app/dashboard/deforestation/biomes/legal_amazon/rates), que é uma plataforma web desenvolvida pelo INPE para acesso, consulta e disseminação dos dados gerados pelos programas PRODES e DETER (um programa que também é operado pelo INPE e faz um rápido levantamento de alerta de evidências de alteração da cobertura florestal da Amazônia). A partir dessa plataforma é possível navegar por dados, gráficos e mapas do desmatamento entre os anos de 1988 e 2019.

E quais serão as consequências e impactos desse desmatamento?

  • Perda de produtividade: pois irá gerar baixo índice de nutrientes, erosão e compactação do solo, que são impactos evidentes do desmatamento. Como citado anteriormente no texto, a Floresta Amazônica é autossustentável! Entretanto sem a floresta de pé acabam as suas condições de autosustentabilidade e do homem realizar o seu uso sustentável, pois será necessário fazer uso de fertilizantes para a manutenção da produtividade da área para atividades agrícolas e pecuárias. O uso de fertilizantes ainda traz consequências negativas, como poluição de rios, lagos e até do próprio solo.
  • Perda de biodiversidade: pois haverá perda de habitat para muitos organismos vivos, inclusive espécies que são endêmicas, ou seja, que ocorrem somente em uma região restrita. Com isso, existe a possibilidade de uma parcela significativa da diversidade amazônica entrar em risco de extinção, a não ser que as espécies sejam capazes de sobreviver a essas novas condições. Além disso, muitos organismos vivos podem morrer nas ações de queimadas e de cortes de florestas.
  • Aumento das emissões de gases de efeito estufa: pois incêndios florestais naturais ou provocados pelo homem emitem gases de efeito estufa, aumentando a sua concentração na atmosfera e colaborando para o aquecimento global e as mudanças climáticas (para saber mais sobre Mudanças Climáticas acesse o link http://papocomciencia.com.br/pages/materias/mudancas_climaticas.html).
  • Mudanças no regime hidrológico: as bacias hidrográficas precisam da floresta que a circunda para se manterem. Sem essa floresta pode haver assoreamento e mudança no percurso dos rios. O escoamento de água através do rio Amazonas corresponde a quase 50% da chuva que cai sobre a bacia, implicando que os outros 50% seriam reciclados e permaneceriam na bacia. Porém, não é isso que acontece, o vapor d’água escapa pela ponta noroeste da bacia Amazônica (Colômbia) em direção ao Pacífico e Centro-Sul do Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina por correntes de ar. Sabe o que isso significa? Significa que a chuva que a região Sul do Brasil recebe provém da umidade vinda da Amazônia. Quando observamos um mapa do Brasil podemos verificar que a região Sul do Brasil fica logo abaixo do Trópico de Capricórnio (30º Sul). Com isso em mente, ao analisar um mapa do mundo, como o que pode ser observado a seguir, é possível perceber que outras regiões do mundo que ficam próximas ao Trópico de Capricórnio correspondem a grandes desertos, como na porção Sul do continente Africano (Namib e Kalahari), no Chile (Atacama) e a maior parte do território da Austrália (Towka, Tirari, Tamani etc).

Mapa da distribuição das áreas de deserto no mundo. O Trópico de Capricórnio fica na linha de 30º Sul. Fonte: USGS.

Você deve estar se perguntando por que estamos falando desses desertos em outras regiões do mundo? Ou por que não existe deserto na região Sul do Brasil? E a resposta está justamente em tudo o que te mostramos até agora. A resposta está no fato de que a região Sul do Brasil recebe a umidade vinda da Amazônia por correntes de ar (conhecidas como rios voadores) e sem essa umidade com certeza seriamos um deserto. E essa é uma das razões de ser tão importante diminuir o desmatamento da Amazônia.

Esses são só alguns dos inúmeros impactos que o desmatamento da Amazônia podem causar, e alguns já estão se tornando bem visíveis atualmente.

Você já percebeu como a região Sul do Brasil está sofrendo uma forte seca neste ano de 2020? Pois é, uma das causas pode ser o grande índice de desmatamento na Amazônia em conjunto com outros fatores climáticos. Se continuar todo esse desmatamento na Amazônia a região Sul do Brasil poderá se tornar um deserto, como o Saara, Kalahari ou Atacama.

Quais seriam as estratégias para desacelerar o desmatamento?

Apesar de parecer utópico a criação de programas ou ONG’s em prol da preservação da Floresta Amazônica, reformas sobre impostos, créditos e subsídios, criações e obediência às leis por parte do governo e até uma reforma política no país podem ser a “solução”. O grande problema é que grandes nomes do Brasil querem lucrar em cima da Floresta Amazônica por meio do desmatamento, além do mais, não podemos esquecer do interesse político em internacionalizar a Amazônia. Lembre-se, a Amazônia é nossa e o equilíbrio do Brasil e do mundo depende dela, então precisamos arregaçar as mangas e lutar por ela e pela sua preservação acima de tudo.

A Floresta Amazônica fornece, no mínimo, três classes de serviços ambientais: a manutenção da biodiversidade, o estoque de carbono e a ciclagem da água, além de ser o “ar-condicionado” do planeta Terra.


Referências:
http://www.obt.inpe.br/OBT/assuntos/programas/amazonia/prodes
http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/
https://floram.org/article/10.4322/floram.2011.027/pdf/floram-18-1-98.pdf
Fearnside, P.M. 2020. Desmatamento na Amazônia brasileira: História, índices e consequências. p. 7-19. In: Fearnside, P.M. (ed.) Destruição e Conservação da Floresta Amazônica, Vol. 1. Editora do INPA, Manaus, Amazonas. 368 p. (no prelo).
Fearnside, P.M. 2020. Como sempre, os negócios: o ressurgimento do desmatamento na Amazônia brasileira. p. 363-368. In: Fearnside, P.M. (ed.) Destruição e Conservação da Floresta Amazônica, Vol. 1. Editora do INPA, Manaus. 368 p. (no prelo).
RICKLEFS, Robert; RELYEA, Rick. A economia da natureza. 7 ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2016. 2018. Cap 6. Pag 209.
Para consultar a legislação que trata da Amazônia Legal acesse:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LCP/Lcp124.htm
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2009/lei-11952-25-junho-2009-589064-publicacaooriginal-113965-pl.html
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12651.htm