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Dia Mundial da Conscientização do Autismo

Aline Lubyi
2 abr 2020

revisão textual: Ricardo A. S. Cerboncini

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma condição do desenvolvimento neurológico caracterizado por prejuízos sociais, comportamentais e de comunicação, que se manifesta nos primeiros anos de vida. O mesmo não tem cura, no entanto, a intervenção precoce por meio de terapias é essencial para o desenvolvimento do indivíduo. A ONU (Organização das Nações Unidas), no fim de 2007, estabeleceu todo 2º dia de abril como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, que tem como propósito levar conhecimento à população a fim de diminuir a discriminação e o preconceito.

A causa do TEA é em parte genética. Hoje existem mais de 100 genes identificados que estão relacionados com o TEA. Porém, não existe nenhum exame genético para detectar o autismo. Dessa maneira, o diagnóstico é 100 % comportamental. Muitos pesquisadores continuam suas pesquisas sobre esse assunto e nos próximos anos é possível que existam novos exames para entendermos melhor como funciona o autismo.

O autismo também se desenvolve por causas ambientais durante o desenvolvimento embriológico. Esses efeitos aumentam a chance do indivíduo portar esse transtorno, os quais podem ser: gravidez de múltiplos, parto prematuro, sangramento na gravidez, idade materna e paterna (acima de 40 anos), entre outros. No entanto, esses efeitos parecem ser dependentes de uma pré-disposição genética. A poluição já foi comprovada como um dos fatores que aumentam as taxas de autismo. Sabe-se que morar em áreas poluídas aumenta a probabilidade dos filhos terem o TEA. Desse modo, as causas podem ser variadas e não é possível ter controle total sobre elas.

A informação é essencial para compreensão das necessidades de pessoas com TEA: quanto mais conhecimento, menos preconceito!

A primeira coisa que podemos observar em crianças com TEA é a falta de comportamentos esperados. As características que devem ser percebidas nas crianças a partir de um ano de idade incluem:

  • Atenção compartilhada: a criança com TEA não consegue olhar para suas referências em situações de convívio social. Por exemplo, ao achar alguma coisa legal ou interessante, crianças normais costumam olhar para seus pais ou tutores de maneira a tentar compartilhar essa experiência. Com um ou dois anos, a criança já dispõe de uma referência social que a permite identificar quem são seus pais e ter preferência pelo colo dessas pessoas. Consequentemente, podem não gostar de ir para o colo de outras pessoas, buscando sempre em situações estranhas, de perigo ou dor, seus pais ou cuidadores. No entanto, crianças com autismo costumam aceitar o colo de qualquer pessoa em qualquer situação.
  • Interações sociais: os bebês com um ano de idade devem ter reações às gracinhas, por exemplo, quando o pai ou a mãe fazem algumas brincadeiras. No entanto, crianças com TEA tem dificuldade de imitar e reproduzir comportamentos. As crianças autistas não gostam de conversar muito, nem se sentem à vontade em situações sociais, como ao brincar, compartilhar brinquedos e brincadeiras. Na maioria das vezes preferem o isolamento.
  • Movimentos repetitivos: as crianças com TEA desde pequenas já podem ter movimentos repetitivos, de quando estão felizes ou agitadas, chamados de movimentos estereotipados. As pessoas com autismo tem bastante dificuldade em mudar de rotina. Isso dificulta muito a vivencia em sociedade. Gostam dos mesmos assuntos e isso ajuda as pessoas com autismo a saberem muito sobre coisas específicas. Isso pode favorecer um conhecimento acima da média sobre determinadas características ou determinados temas. Podem falar do nada algo que não faz sentido naquele contexto, e as pessoas ao seu redor não vão entender o que está acontecendo.
  • Função na comunicação: a criança com um ano de idade já precisa falar pelo menos uma palavrinha com função, ou seja, com a intenção de se comunicar, de se fazer entender, precisa ter gestos comunicativos, intenções comunicativas. As pessoas com autismo vão desenvolver a fala, porém é comum o desenvolvimento de uma fala robotizada, chamada de ecolalia, com dificuldades de entonação e expressão das emoções.
  • Falta de interpretação: pessoas com TEA tendem a entender tudo apenas no sentido literal, ou seja, não entendem as entrelinhas. Podem ter dificuldade de entender, por exemplo, a intenção das pessoas com quem estão conversando, a não ser que essa seja explicitada.

No caso da detecção de sintomas, é importante a avaliação por um especialista!

O manual de diagnostico estatístico dos transtornos mentais é o DSM-5, no qual especialistas se baseiam para fazer o diagnóstico de autismo. Esse manual divide o autismo em 3 níveis:

  1. São aquelas crianças que tem funcionamento comportamental e social bastante adequado, conseguem ir bem na escola e não precisam de tanta ajuda. Necessitam de pouco tratamento para se desenvolverem.
  2. São pessoas um pouco mais comprometidas e precisam de ajuda intensiva. O tratamento se faz necessário nas escolas, em clinicas com especialistas e em casa. Ainda assim, com muito tratamento elas normalmente são médias no seu funcionamento comportamental e social, precisando de apoio diariamente.
  3. São os indivíduos graves, muito comprometidos. Isso quer dizer que mesmo com muito tratamento, são pouco funcionais, pouco autônomas e independentes na vida. A maioria (70%) das pessoas que tem TEA tem retardo mental associado e é classificada nos níveis de intensidade 2 e 3.

O que fazer depois de descobrir todas as características de diagnóstico?

É muito importante procurar um especialista cedo, pois nos primeiros anos do desenvolvimento a criança tem muita neuroplasticidade – isto é, o cérebro tem uma capacidade incrível de se reorganizar e construir novos caminhos para a aprendizagem. Existem técnicas cientificamente comprovadas para se estimular pessoas com o TEA. Um dos tratamentos é o ABA, uma terapia comportamental que se preocupa em potencializar comportamentos adequados e eliminar comportamentos inadequados (de agressividade, de falta de habilidade social, entre outros). Outras técnicas são o Teacch ou Pecs, que usam figuras para a criança se comunicar e organizar a sua rotina.

Se uma criança que tem autismo é agressiva isso não é normal e a terapia pode ajudar!

Outros tratamentos importantes são o fonoaudiológico e a terapia de integração social. Essas técnicas permitem melhorar na comunicação e integração da pessoa com TEA na sociedade. A interação com o meio tende a ser bloqueada em autistas, pois eles não gostam de determinadas sensações, devido à maior sensibilidade ao som, restrição alimentar e dificuldades com certas texturas. O tratamento medicamentoso também é importante. Muitas vezes o tratamento com remédio aumenta o efeito das terapias, porque a criança medicada tende a ficar mais focada e organizada. Assim, os profissionais têm condições de intervir melhor e mais profundamente com a criança e ela automaticamente faz novos caminhos cerebrais.

Autistas podem ser geniais!

Alguns estudos mostram que algumas habilidades nas pessoas com autismo são melhores do que nas pessoas com desenvolvimento típico. A memória e habilidades visuais são algumas dessas características. De fato há alguma coisa estranha, diferente e interessante nas pessoas com autismo. Às vezes uma criança com dois/três anos começa a ler sozinha, ou uma criança pequena é capaz de sentar em um piano e tocar melodias incríveis sem ter tido uma única aula. O autismo ao mesmo tempo em que preocupa, também encanta!

Algumas pessoas acreditam que grandes gênios da humanidade, como Einstein e Newton, talvez tivessem TEA, mas isso não se sabe ao certo. Cerca de 10% das pessoas com TEA têm outra síndrome, chamada Savants. Pessoas nesse quadro apresentam habilidades excepcionais, incluindo tipos de genialidade que são incomuns. Por exemplo, o jogador de futebol Lionel Messi foi diagnosticado com autismo aos oito anos de idade e tem habilidades fora do comum para entrar em estado de hiperfoco e realizar movimentos repetitivos.


Referências:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1679-45082017000200233&script=sci_arttext&tlng=pt
https://www.vittude.com/blog/transtorno-do-espectro-autista-ou-autismo/
http://www.niip.com.br/wp-content/uploads/2018/06/Manual-Diagnosico-e-Estatistico-de-Transtornos-Mentais-DSM-5-1-pdf.pdf
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S2317-17822013000300013&script=sci_arttext&tlng=pt