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O caso do vazamento de petróleo no Paraná

Aline Lubyi
27 fev 2021

revisão textual: Talita Braga

Em uma tarde de domingo, no dia 16 de julho de 2000, aconteceu um acidente com vazamento de petróleo no oleoduto ligado à Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), que fica na cidade de Araucária, região metropolitana de Curitiba. O vazamento totalizou quatro milhões de litros de óleo cru, proporcional a mais de 25 mil barris, que foram derramados do OSPAR (Oleoduto Santa Catarina – Paraná) e infectaram a bacia do Arroio Saldanha e os rios Barigui e Iguaçu. Esse é considerado o maior desastre ambiental do estado do Paraná e também o maior desastre fluvial do país ocasionado por derramamento de petróleo.



Quatro milhões de litros de petróleo cru vazaram de um duto do OSPAR (Oleoduto Santa Catarina – Paraná) e contaminaram a bacia do Arroio Saldanha e os rios Barigui e Iguaçu. Fonte: PR/SC, Sindipetro, 2015.

O óleo derramado percorreu uma distância de aproximadamente 100 quilômetros rio abaixo, atingindo uma ampla Área de Preservação Permanente (APP) do bioma da Mata Atlântica e ocasionando prejuízos à flora, fauna, qualidade do ar e da água na região. No caminho percorrido rio abaixo o óleo ocasionou prejuízos aos animais aquáticos e a qualidade da água, e também se depositou no solo próximo às margens do rio afetando os animais terrestres e todo o ecossistema associado. Esse óleo cru também exala forte cheiro, podendo ser comparável com a gasolina, o que pode causar prejuízos à fauna e também provocar mal-estar entre os moradores do local e as pessoas que trabalham na sua contenção.



Mapa mostrando a localização da refinaria REPAR e dos rios Barigui e Iguaçu - que foram atingidos pelo petróleo. Fonte: Puerari, 2011.

Os rios afetados são importantes para a manutenção de uma rica diversidade de peixes, além de áreas verdes que apresentam uma grande biodiversidade, incluindo espécies endêmicas e ameaçadas de extinção. Também é indiscutível a preciosidade desses rios para o homem, pois eles são fonte de água doce para o abastecimento das cidades que ficam ao longo do seu leito. Ainda, não podemos esquecer que apenas uma pequena porcentagem da água presente no mundo está disponível como água doce, e que essa quantidade vem diminuindo quanto à sua disponibilidade para atender as nossas necessidades vitais. Agora imagine essa pequena porção de água sendo destruída por contaminações como essa e sendo impedida de ser utilizada. Infelizmente essa é uma realidade que estamos vendo com maior frequência.

Consequências do vazamento

Mensurar o real prejuízo ocasionado ao meio ambiente e a população é uma tarefa difícil de ser realizada. Um levantamento prestado pelo IAP (Instituto Ambiental do Paraná, hoje transformado em IAT – Instituto Água e Terra) registrou que apenas um animal se encontrava vivo a cada oito que eram resgatados. Ainda hoje é possível ver óleo brotando do solo em regiões próximas à refinaria e também detectar que o óleo ainda vem sofrendo processo de evaporação e causando a contaminação do ar, o que pode trazer riscos à saúde dos seres vivos.



Apenas um entre oito animais resgatados era encontrado vivo.

Atualmente, passados um pouco mais de 20 anos do acidente, as consequências ainda são percebidas e os erros cometidos precisam ser reparados. Esse vazamento deixou visível a incapacidade da empresa Petrobras ao atendimento em acidentes extensos. Após o petróleo estar incontrolável diversos trabalhadores foram recrutados para dar início à limpeza dos rios, porém esse trabalho foi realizado sem os devidos equipamentos básicos de segurança, higienização do local (as refeições eram realizadas à beira do rio) e prestação de atendimentos médicos no local.



O óleo que vazou contaminou as águas e o solo da região dos rios Barigui e Iguaçu. Fonte: PR/SC, Sindipetro, 2015.

As condições dos trabalhadores no ambiente do desastre eram muito precárias, mesmo com o devido conhecimento sobre os riscos que o contato direto com o óleo cru pode ocasionar. Os danos podem ser irreversíveis, de forma que esse trabalho foi como ir para guerra sem proteção. Após uma semana trabalhadores começaram a se queixar de dores de cabeça, muitos tiveram graves sequelas pela contaminação do óleo, ocorrendo inclusive uma morte entre os diretamente envolvidos.

Após 20 anos, estamos prestes a presenciar o desfecho das investigações?

Esse desastre representa um dos maiores da história da Petrobras. A principal falha apontada pelo acontecimento desse desastre foi a redução do número de trabalhadores e de recursos para a manutenção industrial. Entretanto, a empresa não concordou com isso e demitiu quatro funcionários alegando serem os culpados do desastre. Porém, em outubro de 2019 as investigações se aprofundaram e finalmente o Tribunal Regional Federal da 4ª Região confirmou condenação da Petrobras. O julgamento ocorreu no dia 11 de setembro, a sentença chegou a pelo menos R$ 610 milhões (ainda a ser decidida) e antecipa que a estatal deverá recuperar todas as áreas atingidas pelo vazamento.

Em 2020 o Sindipetro – PR/SC lançou um documentário sobre os 20 anos da maior tragédia ambiental do Paraná (pode ser visualizado logo abaixo). Essa é uma matéria muito importante para você, nosso leitor, compreender melhor as consequências de um desastre ocasionado a partir da extração de petróleo, uma vez que pode avançar em grande escala e prejudicar todos os seres vivos que vivem no ecossistema.




Referências:
AGUAONLINE. Vazamento no Rio Iguaçu - II A visão dos ambientalistas. 2000. Disponível em: http://www.aguaonline.com.br/edicoes_antigas/17-edicao/meioambiente/17-meioambiente-vaza2.htm. Acesso em: 26 fevereiro de 2021.
JFPR. TRF4 confirma condenação da Petrobrás por vazamento de óleo no PR. 2019. Disponível em: https://www.jfpr.jus.br/noticias/trf4-confirma-condenacao-da-petrobras-por-vazamento-de-oleo-no-pr/. Acesso em: 24 de fevereiro de 2021.
MOURA, Rafaela. Após 20 anos, maior vazamento de óleo da Repar ainda corre na Justiça. 2020. Disponível em: https://www.cut.org.br/noticias/apos-20-anos-maior-vazamento-de-oleo-da-repar-ainda-corre-na-justica-df7e. Acesso em: 11 de fevereiro de 2021.
NOTÍCIAS (org.). 20 anos da maior tragédia ambiental do Paraná. 2020. Disponível em: https://sindipetroprsc.org.br/site/index.php/noticias/item/3966-20-anos-da-maior-tragedia-ambiental-do-parana. Acesso em: 20 de fevereiro de 2021.
OLIVEIRA, Wagner. Unidade da Petrobras registra maior acidente dos últimos 25 anos ao deixar vazar 4 milhões de litros de óleo Refinaria causa desastre em rio do PR. 2000. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1807200001.htm. Acesso em: 25 de fevereiro de 2021.
PORÉM.NET (org). Sindipetro-PR/SC lança documentário sobre os 20 anos da maior tragédia ambiental do Paraná. 2020. Disponível em: https://porem.net/2020/07/22/sindipetro-pr-sc-lanca-documentario-sobre-os-20-anos-da-maior-tragedia-ambiental-do-parana/. Acesso em: 15 de fevereiro de 2021.
PR/SC, Sindipetro (org.). 20 anos da maior tragédia ambiental do Paraná. 2020. Disponível em: https://pr.cut.org.br/noticias/20-anos-da-maior-tragedia-ambiental-do-parana-c4f7. Acesso em: 17 de fevereiro de 2021.
PUERARI, Lucas. Avaliação ambiental dos rios dos rios Barigui e Alto Iguaçu (Paraná): a contaminação atual e a contaminação residual relacionada ao acidente da Repar (2000). 110 f. Tese (Doutorado) - Curso de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/56290/000859737.pdf?sequence=1. Acesso em: 26 de fevereiro de 2021.