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O que é Pegada Ecológica

Lea Brenda Krieger
Sabrina Chelegel
07 mar 2021

revisão textual: Talita Braga

Pegada Ecológica é uma das metodologias propostas na literatura para monitorar o desenvolvimento sustentável. Foi proposta por Wackernagel e Rees em 1997 e é traduzido do inglês Ecological Footprint. O princípio da Pegada Ecológica é mensurar a capacidade de suporte, ou seja, representar o espaço ecológico que é necessário para suprir uma determinada situação, avaliando a relação que existe entre a oferta e o consumo de um dado recurso natural, e o impacto que o seu uso pode ocasionar. Falando de uma maneira mais simples, podemos pensar que a Pegada Ecológica é a pegada que deixamos no planeta, a marca que deixamos devido aos recursos naturais que utilizamos de maneira direta ou indireta.

Mas afinal, o que é recurso natural?

Na ecologia, quando falamos em recursos naturais, nos referimos aos elementos da natureza que ainda não sofreram modificação pela ação do homem e que são essenciais para a sobrevivência dos indivíduos – incluindo aqui não apenas o homem, mas todas as formas de vida existentes. Há alguns tipos de recursos naturais – como recursos biológicos, hídricos, energéticos e minerais. Esses podem ser classificados em renováveis – que possuem alta capacidade de renovação em curto espaço de tempo, como o solo, e não renováveis – que não possuem capacidade de renovação, pois demoraram muito tempo para se formarem na natureza, como o petróleo.

Ao longo da vida de todos os seres vivos o indivíduo precisa processar materiais para transformá-los em energia. Para fazer isso e conseguir sobreviver, o mesmo precisa adquirir nutrientes e energia do ambiente ao seu entorno e ao mesmo tempo necessita se livrar dos resíduos que são gerados e não possuem mais utilidade para ele. Tudo isso acaba alterando a disponibilidade de recursos para outros seres vivos – se eu utilizei uma dada fonte de nutriente, ela não estará mais disponível para você. E por fim, a forma como os nutrientes e a energia são utilizados implica na Pegada Ecológica que será deixada.

A metodologia da Pegada Ecológica contabiliza os fluxos de matéria e energia que entram e saem do sistema econômico, convertendo-os em área correspondente de terra ou água que são necessárias para sustentar esse sistema. Essa é uma avaliação que verifica se há a possibilidade da Terra resistir ao estilo de vida da humanidade. Vale destacar que a Pegada Ecológica varia dependendo do local e do tamanho da população, pois as pessoas são diferentes e usam os recursos naturais de maneiras bem distintas ao redor do mundo.


Conhecer a Pegada Ecológica ajuda na tomada de decisão e construção de uma consciência pública no que diz respeito aos problemas ambientais, para que assim as nações possam se desenvolver de forma mais sustentável, sem comprometer as futuras gerações.


Constituição Federal (1988), Art. 225
“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.”


Como falamos anteriormente, os indivíduos utilizam os recursos naturais e depois precisam se livrar dos resíduos que não possuem mais utilidade, sejam eles orgânicos ou não, sólidos ou líquidos. É no consumo de recursos e formação de resíduos que se encaixa o impacto que a nossa Pegada Ecológica pode causar no meio ambiente. Nós utilizamos desde recursos primários (vegetais in natura, leite, madeira, etc.) até manufaturados (papel, queijo, etc.) e todo o processo até que esses materiais cheguem nas nossas mãos geram impactos. A nossa habitação, transporte, crescimento populacional, alimentação, bens e serviços geram impactos ambientais como emissão de gases na atmosfera, extração de matéria prima sem limites, uso exagerado de agrotóxicos, acúmulo de lixo, mudanças climáticas, escassez de recursos e etc. – tudo isso para suprir a demanda da humanidade. Uma regra bem conhecida é que toda ação gera uma reação. O nosso planeta repõe os recursos naturais que são explorados, mas na velocidade em que estamos consumindo e modificando a paisagem o planeta pode não resistir. O estilo de vida da humanidade está se tornando insustentável, o que implica em prejuízos para a geração atual e futura.


Há outros indicadores que se encaixam dentro da Pegada Ecológica para mensurar o impacto ambiental produzido pelos humanos como Pegada de Carbono e Pegada Hídrica, que correspondem respectivamente ao efeito estufa e impacto na hidrosfera.

Como eu posso calcular minha Pegada Ecológica?

Vimos que, enquanto instrumento, a Pegada Ecológica é capaz de revelar o quanto de área produtiva de terra e mar do planeta é necessário para prover os recursos e assimilar os resíduos gerados pelas atividades humanas. Contudo, todos nós sabemos como as atividades antrópicas têm exercido grandes pressões sobre o planeta, comprometendo a consonância harmoniosa do dia a dia do ser humano com a capacidade regenerativa da natureza. Por volta de 1980, a pegada total humana alcançou a margem da capacidade ecológica do planeta, o que significava que, até esse período, um planeta era suficiente para sustentar a humanidade. No entanto, em 1999 concluíram que era necessário 1,2 planeta para suportar as atividades antrópicas da época. Atualmente, esse valor chegou a 1,5 planeta! Isso significa que o valor médio da pegada ecológica mundial é de 2,7 hectares globais por pessoa (no Brasil essa média alcança 2,9 hectares), enquanto a biocapacidade de fornecimento do planeta abrange aproximadamente 1,8 hectare global por pessoa.

Mas você deve estar se perguntando como podemos estar cientes dos impactos que são gerados por nós mesmos enquanto vivemos nossas vidas no modo automático, inconscientes na maior parte do tempo de nossos atos destrutivos. Como vamos saber o quanto nossas atividades individuais e coletivas colaboram ou impactam o meio que habitamos? Existe uma forma de calcularmos nossa Pegada Ecológica? A resposta é: Sim! Há vários sites que oferecem esse serviço através da constatação de alguns de seus hábitos cotidianos, revelando quantos planetas seriam necessários se todas as pessoas tivessem o mesmo estilo de vida que o seu.

Consulte os sites abaixo para conferir qual o tamanho da sua “pegada” no meio ambiente! Não se esqueça de ser sincero nas suas respostas, se autoavalie legitimamente para contemplar resultados fiéis.

Como posso reduzir minha Pegada Ecológica?


Há diversos setores nos quais podemos nos policiar para que nosso estilo de vida esteja mais de acordo com a “saúde” do nosso meio ambiente. Pequenas mudanças de hábito, seja na questão de alimentação, consumo, locomoção, moradia etc, podem fazer uma baita diferença se praticados consistentemente. Sabendo que cerca de 60% da água doce disponível em nosso planeta é destinada à produção de alimentos, um dos primeiros passos que podemos adotar é diminuir o consumo de produtos com alta demanda de água na sua fabricação. Nesse caso, devemos procurar reduzir o consumo exacerbado de proteínas de origem animal, fast food e produtos industrializados. Assim, além de ajudar a preservar esse recurso tão valioso que é a água, também diminuímos a produção de lixo.

Outra ótima forma de ajudar o planeta é contribuirmos para a redução do uso de agrotóxicos, que podem causar um desequilíbrio ambiental, além de contaminar o solo e a água. Para fazer isso devemos optar, sempre que possível, por frutas, legumes e cereais produzidos localmente, através da agricultura familiar e orgânica. Procure adquirir produtos “verdes”, isto é, produtos que sejam fabricados por empresas/microempreendedores que atuam em prol da sustentabilidade, aderindo a responsabilidade socioambiental. Falando em responsabilidade socioambiental, você sabia que ao optarmos por apoiar a agricultura familiar, além de ajudá-los no sustento, estamos auxiliando na redução de emissão de CO2? Isso acontece uma vez que o trajeto percorrido entre o local de produção e a sua casa é consideravelmente menor.

Outra forma de reduzir a emissão de CO2 é transportar o máximo de carga possível gastando o mínimo de combustível, tornando essa uma forma de utilizar a energia de modo mais sustentável. Por isso, evite andar de carro sozinho e varie suas formas de locomoção, utilizando bicicleta, percorrendo trechos a pé e privilegiando o uso de transporte coletivo ou da famosa carona.

Se você mora com a família ou algum grupo, automaticamente já está contribuindo para a redução da sua pegada! Isso acontece pelo fato de que quando os recursos são usados coletivamente, como água, energia e outros, consequentemente eles são mais bem aproveitados. Aparelhos eletrônicos também merecem atenção. Aqueles que possuem o selo PROCEL consomem menos energia, e quando eles não estiverem sendo utilizados opte por desligá-los da tomada. Também é importante que você usufrua ao máximo da luz natural para a iluminação de ambientes.

Já os recursos florestais, aqueles que são extraídos diretamente da floresta para serem comercializados, merecem uma atenção especial. Quando esses recursos são comercializados é importante que verificar se eles possuem o número de registro no IBAMA. Caso não possua o registro não devemos comprar, pois significa que esse recurso foi extraído da floresta foi ilegal. Da mesma forma, essa certificação do IBAMA também é válida em casos de animais silvestres; caso queira adquiri-los, certifique-se de sua procedência.

Já que estamos falando de caminhos mais sustentáveis de consumo, não seria válido deixar de mencionar a importância dos recursos naturais renováveis e seu papel na geração de energia. Como sabemos, os recursos naturais são explorados para servir de matéria ou energia aos seres humanos. Contudo, nem todos são capazes de se renovar em um período relativamente curto na natureza, como acontece com a água, o solo, a energia solar e eólica. Entretanto, apesar de termos a nosso dispor fontes de energia inesgotáveis através dos chamados recursos naturais renováveis, usufruir destes em relação aos não renováveis ainda possui elevados custos de investimento, o que muitas vezes acaba sendo apontado como lado negativo. Como exemplos de fontes de energia renováveis podemos citar a luz do sol (energia solar), água dos rios (energia hídrica), força dos ventos (energia eólica), materiais orgânicos (biomassa), força das ondas (energia ondomotriz), força das marés (energia maremotriz) e o calor do interior da Terra (energia geotérmica). Mas infelizmente, devido à falta de acesso à informação, de incentivo e principalmente à presença em larga escala de distribuidoras elétricas, o potencial da energia solar e eólica não são devidamente explorados, o que faz com que muitos brasileiros não enxerguem essa prática como um investimento a longo prazo.

Vimos que fazer nossa parte, pouco a pouco, dia após dia, pode sim ajudar a mãe natureza, nossa casa, a se reconstituir mais rapidamente, ou melhor, diminuir sua velocidade de degradação. Se importar com o meio em que vivemos é um ato mínimo de agradecimento pelo que ela nos tem fornecido há milhares de anos, sustentando a vida, que dela surgiu.


Referências:
A PEGADA ECOLÓGICA E O IMPACTO DO SER HUMANO NO PLANETA. Disponível em: https://quimicajr.com.br/blog/a-pegada-ecologica-e-o-impacto-do-ser-humano-no-planeta/. Acesso em: 24 de fev. 2021.
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