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Meio ambiente e Agricultura:
um bem e um mal necessário!

Ana Paula Konkol
06 jun 2020

revisão textual: Talita V. Braga

A safra nacional 2018/2019 de cereais, leguminosas e oleaginosas atingiu a produção de 241,5 milhões de toneladas, sendo que deste total 92,8% representam a produção de arroz, milho e soja. A estimativa da produção agrícola para a safra 2019/2020 é que deve ser recorde, totalizando 243,1 milhões de toneladas, o que representa um crescimento de 0,7% em relação à safra 2018/2019.

Quando observamos esses números de produção agrícola, percebemos como o Brasil é um grande produtor de alimentos. Mas, pare um instante para pensar, como conseguimos alcançar essa grande produtividade agrícola?

Devemos reconhecer que o sucesso da produção agrícola nacional é uma soma de fatores que incluem a abundância dos recursos naturais, disponibilidade de água, calor e luz (nosso clima tropical!), além das extensas áreas agricultáveis no país, os investimentos em pesquisa e tecnologia, políticas públicas e a força de vontade dos agricultores.

O Brasil possui extensas áreas agricultáveis, mas, antes de serem agricultáveis estas áreas eram ocupadas com o que?

No Brasil, a expansão agrícola e a produção em grande escala ocorrem às expensas de áreas nativas. A história registra que esta ocupação de áreas nativas pela agricultura apresentam declínio produtivo em algumas regiões, e que o mau uso dos recursos naturais causam o empobrecimento social e a devastação ambiental. Em 1978, a área da Amazônia que foi desmatada para a agricultura chegou a 14 milhões de hectares. E mesmo com o constante desmatamento, foi apenas no ano de 1992 que questões ambientais e a Amazônia, que é a maior reserva florestal do mundo, foram colocadas em pauta nas discussões mundiais que ocorreram na ECO-92 (Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento), que ocorreu no Rio de Janeiro.

Quer saber mais sobre a história da Agricultura no Brasil? Click no link para baixar o livro!

“Novos Ângulos da História da Agricultura no Brasil”
https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1045353/novos-angulos-da-historia-da-agricultura-no-brasil

Outra questão que impulsiona a grande produtividade agrícola é o combate às pragas. Para alcançar o controle das pragas são utilizados os agrotóxicos, que incluem fungicidas para fungos, herbicidas para plantas daninhas, inseticidas para insetos, acaricidas para ácaros, entre outros (o sufixo ida nessas palavras significa morte). Todos esses tipos de agrotóxicos movimentam um mercado mundial bilionário. No ranking de utilização de agrotóxicos no mundo, que foi realizado pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) no ano de 2017, o Brasil ficou na 13º colocação do ranking que considera o gasto em agrotóxicos (em dólar) pelas toneladas de alimento que foram produzidos, sendo que o Brasil foi o 3º maior exportador de grão do mundo. Mas não podemos esquecer que as constantes permissões de novos agrotóxicos que vêm ocorrendo no mercado brasileiro tem resultado no aumento do consumo de agrotóxicos no país.

Dentre os problemas causados pelo uso excessivo, descontrolado e negligenciado dos agrotóxicos, podemos citar a toxidez aguda, sua persistência no meio ambiente, formação de resíduos tóxicos, exposição crônica, bioacumulação, etc.

E o que isso significa para nós e para o meio ambiente?

O aumento da utilização dos agrotóxicos no Brasil está intimamente relacionado com a evolução da produção agrícola e da expansão da monocultura no país. Este tipo de prática altera o equilíbrio do ecossistema e afeta a biodiversidade (para saber mais sobre Biodiversidade acesse o link http://papocomciencia.com.br/pages/materias/dia_biodiversidade.html), favorecendo o aparecimento de pragas e doenças, o que consequentemente aumenta a utilização dos agrotóxicos. Por sua vez, o uso dos agrotóxicos é vantajoso por aumentar a eficiência de importantes culturas agrícolas, porém o seu uso também gera prejuízos ao ambiente, pois existe o risco de contaminação do solo e de mananciais de água, e a saúde da população de trabalhadores rurais, que estão expostos a estes produtos diretamente, e da população próxima as plantações também pode ser prejudicada.

Monocultura é quando a exploração do solo é feita por apenas um tipo de cultura. Seja uma cultura de cereais, leguminosas ou oleaginosas, ou até mesmo uma cultura arbórea, como pinus e eucaliptos.

Dados do Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos - 2018, elaborado pelo Ministério da Saúde, mostra que vinte e cinco pessoas são intoxicadas por dia devido à exposição a agrotóxicos. E pesquisas apontam que a exposição direta a agrotóxicos aumentam o risco da ocorrência de câncer, distúrbios hormonais e malformação gestacional. Ainda, muitos dos agrotóxicos utilizados no Brasil são proibidos em outros países, e isto nos gera grande preocupação, pois os alimentos que chegam a nossa mesa podem estar contaminados por eles. Já foi verificado através de estudos que frutas e verduras apresentam resíduos de pesticidas, o que gera ainda mais preocupação na população, pois ainda não se conhece bem os efeitos desses resíduos de pesticidas no nosso organismo.

Se comprovadamente os agrotóxicos causam tantos malefícios aos seres humanos, este dano estende-se a toda fauna e flora existente. Vamos citar como exemplo as abelhas, que são insetos e as maiores responsáveis pela polinização, garantindo grande parte da produção agrícola. As abelhas são responsáveis pela polinização de aproximadamente 70% das plantas de importância para alimentação humana! Então vamos parar e pensar o que pode acontecer com elas. Se a abelha é um inseto, e utiliza-se inseticida nas lavouras para controle de pragas, este agrotóxico não afetará as abelhas? A resposta é sim, e não apenas na utilização de inseticidas que podem atuar diretamente nelas, mas também de outros tipos de agrotóxicos que podem causar prejuízos indiretos. Uma pesquisa verificou que de dezenove abelhas mortas, quatorze delas apresentavam fungicidas, onze apresentavam inseticidas e uma acaricidas.

Nesse momento você deve estar se perguntando: E as áreas nativas?

Voltando na utilização das áreas nativas para a produção agrícola, a retirada dessas áreas é responsável por grande perda da biodiversidade, e ainda o manejo inadequado do solo causa erosão, que leva a perda de nutrientes que são necessários para o desenvolvimento das plantas, e que por fim resulta na necessidade da utilização de fertilizantes para a produção. Porém, o uso de fertilizantes em excesso também gera impactos negativos, prejudicando a qualidade biológica do vegetal, podendo contaminar os recursos hídricos, e deixar o solo pobre em microfauna que é capaz de inibir os inimigos naturais da plantação. Com a ausência da microfauna as pragas começam a atacar a produção e então é iniciada a aplicação dos agrotóxicos para o seu controle. Os agrotóxicos por sua vez, dependendo do seu princípio ativo, podem ter um efeito residual longo e entrar em contato com o lençol freático e outros cursos d’água contaminando-os, além de também entrar na cadeia trófica dos ecossistemas e, em última análise, contaminar o homem, como já comentamos no texto.

E o que podemos fazer? Afinal, não dá para ficar sem comer!!

Já existem diversos estudos, bem como muitas pessoas preocupadas com todos esses problemas, e há muito que pode ser feito para mudarmos da agricultura moderna para uma agricultura que seja autossustentável. Podemos citar aqui como exemplo os incentivos a agroecologia e a agricultura orgânica que vem crescendo no país, isto é, devido a demanda de consumo que vem aumentando por parte de uma maior conscientização da população. E pelas regras de mercado que conhecemos, o aumento da procura por esses produtos tende a aumentar o incentivo para essas atividades! Então, se você não é um produtor agrícola, como pode ajudar para que essa mudança da agricultura moderna para a sustentável continue crescendo? É muito simples! Você pode começar (ou continuar!) consumindo produtos orgânicos, buscar conhecer feiras e mercados nos quais os produtores possuem o selo de produtos orgânicos.

Conforme a Lei no 10.831, sistema orgânico de produção agropecuária é todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente.

Selo que identifica um produto orgânico no Brasil .

Dentre os incentivos a agricultura sustentável podemos citar alguns planos para o agronegócio que são financiados pelo governo e incentivam a produção, recuperação e preservação do meio ambiente, como o Programa Nacional de Bioinsumos, Rural Sustentável, entre outros. Sabemos que ainda há um longo caminho para alcançarmos um equilíbrio entre a existência humana e o meio ambiente, mas apenas apontar os erros não é a solução. Então precisamos ser ativos e fazer a nossa parte, por mínima que seja ela, afinal, citando aquela antiga frase – Se cada um fazer a sua parte, a mudança acontece e em nosso benefício!

Participar de fóruns, debates, pesquisar sobre o que está sendo feito, e cobrar resultados é um dever de todos nós como cidadãos!


Referências:
AZEVEDO, Andréa Aguiar - ECO/ UnB; MONTEIRO, Jorge Luiz Gomes - GEO/UFMT. Análise dos Impactos Ambientais da Atividade Agropecuária no Cerrado e suas inter-relações com os Recursos Hídricos na Região do Pantanal. Disponível em: https://d3nehc6yl9qzo4.cloudfront.net/downloads/wwf_brasil_impactos_atividade_agropecuaria_cerrado_pantanal.pdf
BOMBARDI, Larissa Mies. Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia. São Paulo: FFLCH - USP, 2017.
BRASIL. Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003. Dispõe sobre a agricultura orgânica e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.831.htm#:~:text=LEI%20No%2010.831%2C%20DE%2023%20DE%20DEZEMBRO%20DE%202003.&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20a%20agricultura%20org%C3%A2nica,Art.
DINIZ, Fernanda. Importância das abelhas para a produção de alimentos foi tema de mesa redonda no Congresso de Agroecologia 2017. EMBRAPA, 2017. Disponível em: https://www.embrapa.br/recursos-geneticos-e-biotecnologia/busca-de-noticias/-/noticia/27126913/importancia-das-abelhas-para-a-producao-de-alimentos-foi-tema-de-mesa-redonda-no-congresso-de-agroecologia-2017
EMBRAPA. Visão 2030: o futuro da agricultura brasileira. – Brasília, DF: Embrapa, 2018. https://www.embrapa.br/visao/trajetoria-da-agricultura-brasileira
GRIGORI, Pedro. Afinal, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo? Fio Cruz: 03 de julho de 2019. Disponível em: https://cee.fiocruz.br/?q=node/1002
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Levantamento Sistemático da Produção Agrícola Estatística da Produção Agrícola dezembro 2019.
LIMA, Sandra kitakawa; GALIZA, Marcelo; VALADARES, Alexandre; ALVES, Fabio. Produção e consumo de produtos orgânicos no mundo e no Brasil. Disponível em: https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_2538.pdf
REIFSCHNEIDER, Francisco José Becker. Novos Ângulos da história da Agricultura no Brasil. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2012.
VASCONCELOS, Yuri. Agrotóxicos na berlinda. Pesquisa FAPESP: setembro de 2018. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/wp-content/uploads/2018/09/018-027_CAPA-Agrot%C3%B3xicos_271-1.pdf